28/04/2008

Contos Múltiplos I - Final 2

"Com a arma apontada na cabeça, não sabia o que dizer. Poderia pedir desculpas, mas para quê, talvez fugir, mas como? Pensou em rezar um pai-nosso. Como é que começa o pai-nosso mesmo? Não lembra. Não estou mais esperando pela morte, pensa ele. A morte já chegou. A morte me acompanha desde aquele dia. O coração parar de bater, o cérebro parar de funcionar, são só cerimônias. Estou morto desde aquele dia.

Toda a merda que veio ou possa vir depois não vai alterar nada em nada. Estou morto desde o começo, desde o nascimento. Todos estão, mas poucos sabem. A verdadeira morte é viver assim. Minhas culpas, fugas e rezas são inúteis. Estou apertando o gatilho. "

16/04/2008

Contos Múltiplos I - Final 1 - "Da negação"

"Com a arma apontada na cabeça, não sabia o que dizer. Poderia pedir desculpas, mas para quê, talvez fugir, mas como? Pensou em rezar um pai-nosso. Como é que começa o pai-nosso mesmo? Não lembra. Não estou mais esperando pela morte, pensa ele. A morte já chegou. A morte me acompanha desde aquele dia. O coração parar de bater, o cérebro parar de funcionar, são só cerimônias. Estou morto desde aquele dia.

O dia em que a vi cair em meus braços, gelada e linda como nunca antes estivera.
Isolando essa lembrança até parece que fiz parte de uma cena de um filme desses cheios de clichês: "Uma bela mulher cai, nua, nos braços de seu amado. The end."
Mas não, não mesmo. Foi tudo bem pior. Não sei o que fazer. A angústia do fim toma conta de mim nesse momento, porém está sendo difícil acabar comigo mesmo. Sou um covarde, um bosta. Mas nada vai conseguir me fazer continuar aqui. Se ao menos eu soubesse o momento exato de puxar o gatilho...
Não deve haver algum. Estou demorando demais, não deve ser normal. Não vou desistir. Não.
Dramas. Deles, já basta todos os eventos que se sucederam na minha vida. E falando nela, quanta coisa eu poderia ter mudado. Mas não. O passado nos alcança somente pra nos lembrar de que é impossível voltar atrás. E eu mais do que ninguém, sei disso.
Não consigo mais esperar. Não aguento meu próprio cheiro, esse suor mal lavado que escorre na minha testa e quase desliza a arma da minha mão. Nojo de me ver no espelho. Nada mais importa.
Se ao menos ela soubesse como me arrependo."


A multidão se aproxima lentamente ao corpo esticado no carpete. Luzes estão acesas e uma música estranha paira no ar. Expressões de espanto e comoção dos sujeitos no local. No momento, três ou quatro deles lêem o papel rabiscado, deixado sobre a mesa.
Não há mais música."

Contos múltiplos I - Início

Um começo, quantos finais? Nas próximas semanas, meus companheiros de blog terão que terminar esta história:


"Com a arma apontada na cabeça, não sabia o que dizer. Poderia pedir desculpas, mas para quê, talvez fugir, mas como? Pensou em rezar um pai-nosso. Como é que começa o pai-nosso mesmo? Não lembra. Não estou mais esperando pela morte, pensa ele. A morte já chegou. A morte me acompanha desde aquele dia. O coração parar de bater, o cérebro parar de funcionar, são só cerimônias. Estou morto desde aquele dia."


Preparar...apontar...

07/04/2008

Novo documento em branco

Procurava trilha sonora para o momento de solidão ideal. É importante construir esse cenário propositalmente triste, obviamente melancólico para escrever um bom texto, dizia ele para si mesmo entre goles de uísque barato, observando o movimento dos carros através da janela do sétimo andar. Gostava de escrever em 3ª pessoa. Deixou apenas a lâmpada do abajur acesa, próximo à escrivaninha, onde mantinha seu caderno com poucas linhas escritas aberto. A vida já não valia mais nada. Na estante ao lado, discos do Joy Division, Smiths, The Cure, Bauhaus. A vida realmente não valia mais nada. Ao invés de pôr um disco na vitrola, liga o rádio. A imprevisibilidade sempre lhe atraiu mais. Em uma determinada estação, o locutor anuncia "Jump", do Van Halen. As primeiras notas são suficientes para o escritor fazer uma varredura completa de toda sua vida. Trilha sonora muito propícia. Tão propícia que