29/02/2008

"104 que Contam"

Caros colegas enfinistas – e possíveis leitorinhos também!


Tenho o prazer e a enorme alegria em comunicar que Cíntia (mais conhecida como Cintilante) e eu (mais conhecida como muni) fomos duas das 104 felizes pessoas selecionadas para publicar seus contos em “104 que Contam”, antologia organizada por nosso querido professor Charles Kiefer. E o que mais? Estamos nas nuvens – quase que literalmente.

Gostaríamos de dividir este momento com vocês, pois é algo muito especial para nós, que escrevemos os textos selecionados; Um texto não se faz só com as idéias, experiências, leituras de um autor – mas com as idéias, experiências, leituras e tudo que vier de bom dos textos de outros autores. Daqueles autores que a gente lê com freqüência, dos que dormem ao nosso lado, na cabeceira, dos que fazem os tão queridos blogs, colunas de jornais, revistas e tudo o mais.
É importantíssimo, aliás, com este livro, ter a prova viva de que ainda há espaço para a boa leitura e para o bom mercado em nossa sociedade. Não só há como é grande: talvez as pessoas que se escondam. Ainda temos gente interessada em coisas que não sejam e-mails PowerPoint com “mensagens positivas” e livros que prometem a droga do auto-conhecimento. Que se dane.

E já que é com uma verdadeira família que se constrói ou se começa a construir uma possível carreira literária, é agradecendo que devemos anunciar esta novidade tão querida: agradecendo todos os que fazem parte de um processo que começa com um pensamento que às vezes parece bobo, que passa por dezenas de revisões e termina nas mãos ou nas telas de várias e várias pessoas.
Esse é o nosso começo. Pode parecer humilde para alguns, razoável para outros, mas que é realmente grandioso para nós.

15/02/2008

Instantes

Matou a garrafa. Três babados goles e meio metro à frente o separavam dela. O calor latejando em todo o corpo entregava a súbita vontade de possuí-la ali mesmo. Não enxergava a mais ninguém. Secou a barba molhada do whisky vagabundo que acabara de meter pra dentro e partiu. Mais dois passos e ela seria sua. Encarou o marmanjo que a agarrara neste instante e sem pensar duas vezes, caiu de soco em cima do cara. Agora era tarde. Dois dias depois e a pancada na cabeça ainda lhe rendia dores alucinantes. Pensou que diabos, o que é esse lugar e o que faz essa guria aqui ao lado, me encarando? Perdera a chance de saber que, finalmente, ela era sua.

06/02/2008

Soraia

Bueno.
Aproveitando então a boa maré Muni/Cíntia, aí vai a Soraia.
Originalmente publicado em euvoucorrendobuscaragloria.blogspot.com

*

Chama-se Soraia e não tem apego pelo nome. Cultiva uma personalidade volátil com alguns traços de quadradisse plena. Alguns diriam que é difícil catalogá-la no livro "como definir uma pessoa, parte I", porém, outros já a decifraram de cor e salteado. Não é lá muito difícil.
Toda terça feira acorda relativamente tarde e vai jogar na Mega Sena. Sustenta inevitavelmente uma conturbada esperança de vida fácil e de amor livre. Todavia, despenca diversas vezes dos andares mais altos que seu ego consegue alcançar, mas segue com o pó compacto na bolsa para retocar os devidos danos à maquiagem.
Suspira alto ao lado do namorado para demonstrar insatisfação e despeito. Mesmo nada tendo acontecido, sempre algo aconteceu para ela. Ameniza pequenas dores existenciais com sua irritante capacidade de tornar-se insuportável e intolerante, e sabe gabar-se muito bem disso.
Nas quintas feiras, desce os quatro infinitos andares do prédio e compra pão e refrigerante. E cigarros. Não sabe conviver em sociedade sem um maço de cigarros e um copo de bebida na mão esquerda - só consegue fumar com a direita.
Alcança os níveis mais altos de agudisse vocal quando a contrariam, e isso, também faz parte de seus traços pessoais mais marcantes. Pode-se dizer que ela faz questão de deixar rastros por onde passa. Gosta da vida boêmia como poucos, mas não pensa duas vezes quando o sofá azul da sala a convida para uma temporada de televisão e sedentarismo.
Dispensa educação e sutileza ao abrir a boca, seja para elogiar a sua melhor-amiga-que-acabou-de-comprar-aquele-vestido-vermelho-carmim-que-tanto-namorava, seja para despejar em miúdos uma incomodação "extremamente importante." Para ela, lógico.
Chama-se Soraia e poucos sabem disso. Instaurou a ditadura do apelido até a morte. É verdade que apenas uns três ou quatro conhecem-na tão bem quanto eu. Também é fato que ignora o y em seu nome e que decidiu que com i fica mais apresentável, chamá-la de Soraia. Então tá.

03/02/2008

É por que é segunda-feira


Terça. Quarta-feira. Quinta. Sexta, sábado, domingo.
É por que ta quente. Por que ta frio. É a chuva. O mormaço.

É que já é final de ano. É que você está cansado, não consegue mais se concentrar nas coisas, é que você ta ficando velho e, afinal, é fim-de-ano. Sim, você carrega tanto mas tanto tempo nessas suas costas macias, antes tão mais macias e agora. É que é Reveillon, e talvez você nem saiba como se escreva, é a fome, é a evasão dos seus estudos, manias, paixões. E agora você ta chorando, e é por que a vida é assim pra quem não tem nada, nem um tostão na alma, nem no coração nem mesmo no bolso. É assim. E também, é claro, por que não pára de nevar há cinco semanas e lá fora ta um frio de arder. Sua pele está ficando ressequida, e é por causa da baixa.

É que você está com muito muito muito sono, seus olhos não são mais olhos numa hora dessas, mas só dois gritos de desespero por um descanso que não vem. Suas pernas ficam bambas por alguns vários minutos, e nesses vários você não consegue controlar nada, e tudo por que o ar-condicionado está estragado. E não tem café. E seu inferno astral se aproxima, por que saturno não está na casa do caralho ou sei lá cacildas onde era pra estar.

Ta frio, mas é verão. É o aquecimento global, agora só pode ser. E a minha pressão vai cair depois do almoço – propositalmente. E eu to tão cansada...
É por que o ano mal-começou.

A Macunaíma, um abraço.