02/11/2007

Ponto-final da Vida*



Todos deveriam usar o magnífico ponto-final. Todos. Ele é uma espécie de herói não-reconhecido, uma velha personagem clichê de um conto frustrado. Não se dá importância a ele, mas ele está sempre lá, aguardando para salvar as estruturas mal-feitas e as idéias mal-formuladas.
De maneira geral, as pessoas não se suportam, atualmente; basta notar que a maioria delas utiliza fones de ouvido em seu percurso casa-universidade, universidade-trabalho, enfim. E tudo isso, todo esse problema de socialização, ocorre por que não se usa tanto o recurso do ponto-final quanto deveria. Passa-se *horas* tentando dizer algo que, com o poderoso ponto, diria-se em minutos, assim, resumidamente. Ele nos diz em uma frase o que diríamos em parágrafos. Em pelo menos três deles.

Nos textos escritos, a falta do ponto-final causa problemas seríssimos de incompreensão no leitor. Histórias que são escritas em quatro ou cinco parágrafos e que se dá para contar nos dedos de uma mão os pontos bem utilizados. E como o leitor fica? Não fica. Não entende. Ou melhor: esquece o texto em dois tempos.

Nos textos falados, a situação pode piorar. As mais diversas brigas e discussões poderiam ser evitadas se tivesse-se um ponto de referência geral – o ponto-final da vida. Diga o que você quiser realmente dizer em uma frase apenas [ponto]. Não enrole [ponto]. Não subestime a atenção alheia, seu namorado vai compreender sua fala de três palavras [ponto]. Ponto pra vida! “Dois pontos”.

Então, que se dê a atenção merecida aos pontos-finais das frases da vida. Talvez o ponto não seja necessariamente um final, mas sim o início de uma fase menos subjetiva e impessoal. Nos textos e relacionamentos, pontos. Ponto.

*mais um texto escrito para mais uma aula, mais uma vez

7 comentários:

cintilante disse...

Bom ponto Muito bom ponto Sou f� dos pontos finais tamb�m ponto "Not Penny's boat" ilustrando a id�ia dois pontos g-e-n-i-i-a-l ponto

Anônimo disse...

Ótimo . Lembra-me dos mestre da pontuação : Hemingay ; Buckwosky . Diziam muito escrevendo pouco.
Parabéns .

L.V.H

Anônimo disse...

hehe. legal teu texto, bruna. não entendo como pode sair coisas tão criativas numa aula. sei lá, não entendo mesmo.

apesar de que gostei da proposta do exercício, pelo menos dessa vez.

Anônimo disse...

demais, munny (viu, agora n�o te chamo mais de bruna)

ta� o dom�nio que eu nunca vou ter, o de escrever "sob press�o", numa sala de aula... um dia, talvez. ah, um dia.

Fábio disse...

Inacreditável que isso tenha saído numa aula da Vera.
Parabéns!

alice disse...

muito bom.
ponto.
(ps: na verdade, tenho dificuldade em colocar ponto nas frases da vida, não sei bem porque, acho que tem a ver com a neurose, tem a ver com a megalomania, tem a ver com alguma coisa... talvez seja o contrário, porque acho que se utiliza muito "ou" e pouco "e". O ponto é bom para objetivar e simplificar. O "e" é bom pra não reduzir. ufa. ponto.)

Carol'cut disse...

Muito bom!